A Belle Époque Carioca - Manguinhos



Manguinhos - as casas higiênicas da segunda metade do séc. XIX e primeiras décadas do séc. XX, não eram uma tipologia. Elas constituíam um conjunto de regras edilícias que visava disciplinar um novo convívio social. Todavia, com o passar do tempo, percebeu-se que esta proposta higienista contribuiu sobremaneira para o aumento da exclusão social.

"A Cidade do Rio de Janeiro

         O período que compreende a segunda metade do século xix e primeiras décadas do século xx foi marcado por mudanças de ordem econômica, social, política, cultural e espacial. Em meio a estas transformações estruturais começou a emergir da pequena cidade comercial com feição colonial uma cidade industrial com aspectos de moderna metrópole capitalista. Ressaltam nesta transição a substituição do trabalho escravo pelo assalariado, a formação de mercados e a mercantilização de bens, inclusive a moradia e o trabalho, a decadência da cafeicultura fluminense, o desenvolvimento dos setores secundário e terciário da economia, a definição de novas categorias sociais e a substituição de elites no poder, com a queda do império e a proclamação da República1. O crescimento demográfico foi intenso: a população aumentou de 235 000 habitantes em 1870 para 522 000 em 1890. Foram criados modernos serviços públicos: sistemas de transporte coletivo (bondes puxados a burro e estradas de ferro), de esgoto, de abastecimento de água, telégrafo, iluminação a gás, telefone, energia elétrica, etc. "

         A implantação de alguns destes sistemas, como as redes de água e de esgoto e os meios de transporte coletivo são exemplos em que se percebe a exclusão conectada à modernização. Não somente o fornecimento de água, a eliminação dos dejetos e todo tipo de deslocamento de cargas e passageiros era executada pelo braço escravo, mas, como lembra Reis Filho (1978), toda a produção e o consumo da cidade (e da casa) se apoiavam sobre a força de trabalho escrava. No país que se modernizava, este trabalho não foi somente substituído pelo trabalho assalariado, mas pelas inovações tecnológicas que impunham redução numérica, maior qualificação e disciplina da força de trabalho empregada. À medida que carris de ferro rodaram sobre trilhos e que água e esgoto fluíram através de tubos e canos de ferro, os escravos foram dispensados junto com liteiras, carroças, baldes e barris. Muitos «tigres2», aguadeiros, carregadores e carroceiros foram postos à margem da economia urbana, excluídos pela modernização. 

        Estes trabalhadores aumentavam o contingente de escravos, libertos e imigrantes nacionais e estrangeiros que, chegando à cidade à procura de meios de sobrevivência, buscavam a área central, onde se concentravam moradia e trabalho e fervilhava a vida urbana. Nesta época a estrutura urbana se resumia na aglomeração de atividades e populações no núcleo; só lentamente os transportes coletivos viabilizariam a expansão e o espaço começaria a se especializar, definindo áreas centrais (comerciais), residenciais e industriais. Em resposta à crise habitacional que se agravava, foi no centro que se multiplicaram as moradias possíveis para esta população: as habitações coletivas."

Excerto do paper de Lilian Fessler Vaz: Dos cortiços às favelas e aos edifícios de apartamentos — a modernização da moradia no Rio de Janeiro

file:///D:/capitulos/Dos%20cortiços%20às%20favelas%20e%20aos%20edifícios.pdf

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