"O arruamento do subúrbio é delirante. Uma rua começa larga,
ampla, reta; vamos-lhe seguindo o alinhamento, satisfeitos, a imaginar os
grandes palácios que a bordarão daqui a anos, de repente, estrangula-se,
bifurca-se, subdivide-se num feixe de travessas, que se vão perder em muitas
outras que se multiplicam e oferecem os mais transtornados aspectos. Há o
capinzal, o arremedo de pomar, alguns canteiros de horta; há a casinha
acaçapada, saudosa da toca troglodita; há a velha casa senhorial de fazenda com
as suas colunas heterodoxas; há as novas edificações burguesas, com ornatos de
gesso, cimalha e compoteira, varanda ao lado e gradil de ferro em roda. Tudo
isso se embaralha, confunde-se, mistura-se e bem não se colhe logo como a
população vai-se irradiando da via férrea. As épocas se misturam; os anos não
são marcados pelas coisas mais duradouras e perceptíveis."
Lima Barreto em “Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá”
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